Sunday 24 July 2011

Como fazer boas entrevistas – usando o método Sawatsky

As entrevistas de emprego não são necessariamente o melhor exemplo, mas elas trazem consigo a carga de importância, urgência, conflitos e mesmo da necessidade de comunicar de forma clara e direta aquilo que está se buscando obter. Estes mesmos elementos também surgem, embora de formas diferenciadas, na maioria das outras categorias comuns de entrevistas.

Lidar com estas questões é um desafio também para quem prepara e conduz a entrevista. Como escolher as melhores perguntas? Como ter certeza de que o entrevistado terá condições de entender exatamente o que você está perguntando? Como escolher a melhor seqüência de perguntas, adaptando-se às respostas que forem sendo recebidas?

Quando bem usadas, as perguntas em uma entrevista podem fazer a diferença entre obter uma resposta clara ou uma ofuscação. Não há técnicas genéricas definitivas para construir estas questões, mas sim muitos posicionamentos e receitas.


John Sawatsky é um jornalista e professor canadense conhecido na imprensa internacional por uma característica: ele sabe ensinar como fazer perguntas que obtêm respostas ricas. Segundo ele, não se trata nem de uma arte e nem de uma ciência, mas sim de algo intermediário, próximo ao campo das ciências sociais.

Você pode fazer algumas previsões e planeamento de entrevistas, mas elas nunca são absolutas, porque o acto de entrevistar envolve pessoas, e elas nem sempre seguem tendências previsíveis. Basta fazer uma pergunta errada em um determinado contexto, e até mesmo um entrevistado que deseja cooperar pode não conseguir lhe dar as respostas que você precisa.

Em 2004, a rede de TV internacional ESPN contratou Sawatsky para trabalhar em tempo integral para capacitar seus jornalistas na construção de melhores perguntas.

Segundo ele, de 1/3 a 50% das perguntas feitas por jornalistas na TV funcionam ao contrário do desejado: ao invés de produzir informações, elas contribuem para suprimi-las. Os repórteres fazem perguntas que podem ser respondidas com um simples sim ou não (adequadas a um tribunal, mas não a uma matéria jornalística), fazem questões longas (muitas vezes maiores que a resposta que receberão), incluem afirmações que o entrevistado pode querer contestar, e acabam aparecendo mais que o entrevistado, distraindo o público daquele que seria o seu tema principal – como acontece em programas de entrevistas exibidos no início da madrugada no Brasil…

Infelizmente este teatro acaba virando um jogo em que ambos os lados conhecem o seu papel e contam com o outro lado para poder melhor desempenhá-lo. O repórter faz perguntas duras que o fazem parecer instigante e poderoso na imprensa, mas ao mesmo tempo oferece discretamente ao entrevistado diversas rotas de escape, e não o persegue quando ele as toma – assim ambos alcançam seu objetivo. Na entrevista de emprego ocorre o mesmo: o entrevistador faz perguntas “difíceis” conhecidas por todos: “qual o seu principal defeito?” – e não questiona quando o entrevistado usa a resposta que viu no Fantástico: “sou perfeccionista, trabalho demais, não consigo abrir mão da busca constante da qualidade”.

Este artigo do Poynter Online, um site dedicado aos jornalistas, apresenta alguns exemplos dos erros comuns identificados por Sawatsky, e os discute de forma detalhada, em benefício das nossas técnicas de preparação de entrevistas.

Como preparar e executar entrevistas com efetividade

Ensinar detalhadamente os métodos é algo reservado ao próprio Sawatsky, mas ele nos fornece algumas dicas simples que podem ser úteis na sua próxima entrevista:

Sempre que possível, prepare suas perguntas antecipadamente.
Pergunte questões abertas, especialmente as que começam com “como”, “por que” ou “o que”, e encoraje o entrevistado a descrever, explicar ou exemplificar algo.
Faça uma pergunta por vez, e não tente misturar mais de um tema na mesma pergunta.
Entrevistador não faz discurso e nem inclui o editorial nas suas perguntas.
A estrela de uma entrevista bem-sucedida nunca pode ser o entrevistador.
Deixe as perguntas fazerem o seu trabalho.
Resista ao impulso de incluir opinião ou tentar antecipar na pergunta uma possível resposta do seu entrevistado.
Grave e transcreva suas entrevistas, compare-as com as técnicas que você conhece, e tente melhorá-las.
Estude entrevistas publicadas na imprensa – as boas e as ruins.

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